Reflection N°13
Poetry and Image About My Time
19:43
Caminhando pela rua
absorto por pensamentos vagos
Tentando estabelecer
algo palpável em que minha mente pudesse agarrar
Um carro
do Serviço Funerário de São Paulo
cruzou o meu caminho
Interrompi a caminhada
Moralmente
iria fazer um minuto de silêncio
para o morto que passava
ou quem sabe
um minuto de silêncio
para todos pensamentos palpáveis que perdi
talvez bastasse ver as coroas de flores
para que certo otimismo banal me tomasse
e me fortalecesse na vida
pra continuar andando
e agradecendo à sorte
por eu não estar naquela caçamba
A pena
é que um homem não precisava estar lá
(entre coroas)
para sentir-se morto
e eu
já havia abandonado
os otimismos banais
Mas queria ver
as coroas de flores sobre o caixão
Olhei firmemente
Mas não havia flores
não havia caixão
Havia apenas sacos empilhados
Enormes sacos pretos empilhados
Dei-me conta
era o começo da noite
19:43
horário impossível de se enterrar alguém
Aquele carro do meu município
estava carregando lixo
Ali
morreu todo o meu senso de humor
durante dia e noite
aquele carro estava fazendo o que fazia sempre
transportava algo a ser descartado
apenas carregava lixo